Do momento em que no dia 19 de março eu soube da escolha do meu nome pela ITC para ir a Seattle eu fiquei impressionada com a organização e atenção do pessoal para que tudo corresse da melhor forma com hotel, voo, visto etc. Fiquei feliz ao encontrar Ucha e Gabriela no aeroporto que ainda estavam acompanhadas do João Mattos do Fairtrade e do Felipe, marido de Gabriela. Todos com o mesmo fim: SCAA, aqui vamos nós!!
Nota 10 para o hotel que ITC reservou para nós, não só por ser o Sheraton, mas principalmente por ser ao lado do evento! Fácil de buscar mais cartões de visita ou mais amostras!!
Chegamos quarta-feira ao meio dia e aproveitamos para dar uma volta pelo mercado municipal, já que o tempo ensolarado estava convidativo. Neste meio tempo, Mirian de Curitiba também havia chegado e se juntou a nós.
Quinta-feira às 7.30 nos encontramos para o café e aí começou a aparecer as colegas de vários países diferentes. Às 9.00 já estávamos no salão para participar das palestras depois de nos apresentarmos. Cerca de 15 países estavam ali representados por produtoras(es), compradores(as) e provadores de café. Foi muito interessante ouvir as companheiras e ver como tudo é relativo. Considero-me uma pequena cafeicultora com 10 mil pés de café, mas ao ouvir Isabelle de Burundi dizer que há cafeicultoras com 200 pés de café, ou a jamaicana, Dorienne, com uma produção média anual de 250kg fiquei achando que meu inglês estava mal... Impressionante!!!
A primeira palestra foi de Serena Thomson da FAST-Finance Alliance for Sustainable Trade sobre financiamento para produtores algo que pareceu interessar os médios produtores. Os interessados devem procurar no site da organização os representantes dela em seu país.
A seguir Mbula Musau fez uma excelente explanação sobre qualidade do café para comércio. É imprescindível ter as melhores práticas agrícolas que junto às melhores processos pós-colheita que se chega aos melhores preços. Apresentou a lista de defeitos do café que muito influenciam a nota final.
A terceira palestra foi de Mark Inman da Olam Specialty Coffee que falou entre outras coisas da importância do café que for enviado como amostra seja realmente o café que será entregue. Tem que haver uma prova oficial deste café. No caso de Burundi foi colocado por uma das presentes que um importador uma vez não aceitou o café apesar de ter sido provado e aprovado oficialmente. Mark aconselhou ameaçar um processo com uma boa multa que isso não se repetirá. Acrescentou não valer a pena distribuir amostras nos estandes que serão empilhadas em algum lugar e talvez nunca provadas ou sequer nem consideradas. Importante é conversar e trocar os cartões e fazer logo um contato quando voltar para casa para manter o interesse. Enfatizou o café especial de pequenos produtores como a tendência do momento.
Já na quarta palestra tivemos o prazer de ouvir a vice-presidente da IWCA, Mery Santos, que focou na importância de se ter objetivos claros a ser alcançados e aconselhou que escrevêssemos a nossa missão dentro do nosso papel como cafeicultora, importadora, exportadora, mulher, mãe etc. Disse também que deveríamos tentar estabelecer o nosso PBS (Personal Brand Statement) para que o nosso produto tenha a nossa cara, por exemplo, se perguntando quais são as qualidades que nos identificam, o que as pessoas consideram nosso ponto forte e também porque os compradores deveriam comprar nosso café. Aconselhou a ter cuidado especial com o cartão de visita que deve ter informações sobre a nossa posição na empresa que representamos e com os contatos bem claros como telefone, email, facebook, twitter etc. Ressaltou a importância de consultar o livreto informativo da feira para que possamos nos apresentar a diversos possíveis compradores e pediu que buscássemos contato com pelo menos cinco firmas que não estavam inscritas para a rodada de negócios.
Recebemos a seguir a listinha com as horas marcadas para a rodada de negócios que seria na sala 618. Foi pedido que visitássemos a feira no quarto andar, mas de vez em quando passar pelo sexto andar porque alguém poderia faltar e eles encaixariam a gente. A seguir fomos convidadas pela presidente da IWCA, Desireé para irmos até o salão nobre participar da abertura oficial da feira. Foi realmente interessante ver aquele salão cheinho, conhecer os organizadores do evento e ver a homenagem ao país produtor, neste ano a Etiópia. Dando continuidade às festividades fomos convidados a ir para a rua onde próximo ao super novo Starbucks haveria muitas barraquinhas onde poderíamos nos entrosar melhor. Confesso que estava muito cansada depois de um dia bem cheio de atividades. Acompanhei Mirian e Dorienne, a jamaicana produtora de café que nos encantou. Claro que todo mundo estava por lá, o tempo ajudou e foi legal travar conhecimento.
Na sexta-feira e no sábado foi realmente um vai e vem entre o quarto e o sexto andar. Estive em vários estandes me apresentando, bem como participei de três momentos na rodada de negócios. O primeiro deles foi decepcionante, pois o encontro foi excepcionalmente no estande da firma que era uma das patrocinadoras do evento e o representante tinha sempre que parar a nossa conversa para atender outras pessoas. Ganhei pacotes de café e uma caneca de presente e trocamos cartões... Já no segundo e terceiro encontro senti que o pessoal estava interessado. São firmas que já estão no mercado com café commodity e estão começando a trabalhar com cafés especiais. Gostaram da possibilidade de poder comprar um pouco de cada tipo no inicio. Veremos... Levei apenas amostras de café do ano passado que nem estoque tem, foi só para mostrar o tipo de café que temos.
Achei excelente o catálogo desenvolvido pela ITC com todas as informações dos participantes vendedores. Um trabalho muito bem feito com três páginas por produtor!!
Na sexta às 17.00 horas ainda fui me encontrar com Ruth Ann Church da IWCA que está trabalhando com a pesquisa sobre a quantidade de mulheres envolvidas no café. Fui junto com Blanca Castro da ITC. Para a IWCA conseguir fundos para os variados projetos é de fundamental importância apresentar números!! Quantas somos? Que percentual está envolvido na cafeicultura e economia mundial? Com isso o impacto para pedir ajuda é melhor e com fundamento. Havia dois representantes de uma universidade (todos dois se chamavam Mr. Wilson) que se propuseram a ajudar a organizar os dados. Mas os dados têm que ser coletados primeiro e isto custa dinheiro, Danielle Giovanecci da firma Cosa e Will, representante da Sustainable Harvest colocaram que muitos países não tem este tipo de informação. Coloquei que pelo menos uma certa margem pode ser alcançada no Brasil através dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Trabalho, mas aí foi colocada questão dos baristas, dos apanhadores de café que moram nas cidades etc. Ficamos de tentar juntar o máximo de dados, eles vão tentar um patrocínio para este levantamento e vamos continuar em contato.
No sábado tivemos logo cedo o Café da Manhã da IWCA no salão nobre onde dois novos capítulos assinaram o termo de compromisso, Peru, como país produtor e Japão, como país consumidor. Muito cheio o salão com mais de 300 pessoas, foi um grande troca-troca de cartões de visita!! Houve uma fala sobre a igualdade de gêneros que precisa ser enfatizada.
Ao meio dia foi o almoço do CQI (Coffee Quality Institute) por 120 dólares a entrada! Que bom que para nós foi de graça! Foi bom saber do desenvolvimento dos programas de qualidade de café. Varias pessoas receberam honrarias pelos trabalhos desenvolvidos em diversas áreas. Para nós o auge foi alcançado ao Silvio Leite, presidente da BSCA, Associação Brasileira de Cafés Especiais apresentou a nova cara da propaganda da BSCA, como Brasil, a nação de café. Deu uma pincelada nos últimos resultados alcançados. Claro que estávamos super orgulhosos de saber que a Starbucks arrematou no leilão do concurso de cafés especiais o café da Bahia. Muita gente ia até o Starbucks só para provar este café que foi vendido por mais de 15 mil reais a saca. Cada xícara dele custava em média 6 dólares!! E viva o Brasil!!
Estive varias vezes no estande da BSCA, pois é lá que os compatriotas se reuniam. Houve uma comitiva de mais de 40 pessoas organizada pela OCEMG, vi caras conhecidas como os presidentes dos Sindicatos dos Produtores Rurais de Manhumirim e Manhuaçu!! Fizeram questão de tirar fotos com as bandeiras do Brasil, Minas Gerais e Carangola que eu tinha comigo. Fui apresentada ao deputado estadual Antônio Arantes que muito se interessou pela realidade de nosso município. Mais uma troca de cartões de visita!
No domingo de manhã, Mery Santos da IWCA e Blanca Castro da ITC nos dividiram em dois grupos para visitar duas torrefações: a famosíssima Starbucks com o café brasileiro e a Victoria com um trabalho bem artesanal e em menor escala.
Às 17.00 nos encontramos para uma avaliação final. Foi muito bom ver que algumas colegas que tinham café em estoque conseguiram vender por uma média de preço líquido de 700 reais. Isso nos deu muita esperança! Algumas estiveram lá ano passado e mais preparadas conseguiram negociar seu café em estoque.
Houve um jantar de despedida e no dia seguinte fomos para o aeroporto e tivemos a surpresa de saber que o voo nosso teria 3 horas de atraso o que impossibilitaria pegar a conexão de Houston para o Rio. A opção foi ir para um hotel pago pela United e viajar no dia seguinte. Um dia depois do previsto chegamos à terra querida com uma bagagem cheia de cartões de visitas e muita esperança!!
Julenia Maria Lopes da Silva, IWCA- Matas de Minas