Elas são educadoras, pesquisadoras, administradoras, baristas e estudantes. Estão no campo, em laboratórios, escritórios, em salas de aula – elas trabalham todos os dias com um dos produtos mais consumidos do mundo, o café. Atualmente, dezenas de mulheres lidam diretamente com pesquisas na Universidade Federal de Lavras (UFLA) tendo o café como tema; entre os estudos estão os trabalhos desenvolvidos pela Agência de Inovação do Café (InovaCafé).
Uma dessas mulheres é a professora e tutora do Núcleo de Estudos em Qualidade, Industrialização e Consumo de Café (QICafé), Rosemary Gualberto, que há mais de vinte anos vem escrevendo a sua história com o café: “eu tive uma maior intimidade com o café, justamente através de mulheres. Minhas duas orientadoras, a professora aposentada da UFLA Vânia Déa de Carvalho e a pesquisadora da Epamig Sara Maria Chalfoun de Souza – mulheres que eu admiro – me apresentaram o universo do café. A partir daí, enfrentamos um mundo exclusivamente masculino, em que muitas vezes o nosso tempo de fala era menor do que o dos homens e a nossa postura teve sempre que ser de cientistas e de mulheres fortes. Não de competidoras, mas de pessoas que queriam trabalhar com café, que sabiam que poderiam oferecer conhecimento para o setor em suas áreas de especialização. Assim conquistamos o nosso espaço na Universidade”, explicou Rosemary.
A introdução de mulheres no ramo da cafeicultura vem aumentando cada vez mais, seja como pesquisadoras ou em campo. Um exemplo desse crescimento é o número de mulheres que fazem parte da equipe do Laboratório de Anatomia e Fisiologia do Cafeeiro da InovaCafé. No total, a equipe é composta por vinte e três pessoas, sendo quinze mulheres na equipe. “Eu comecei a trabalhar com o café durante o mestrado e me apaixonei pela cultura e, cada dia mais, o meu interesse por essa área vem crescendo”, comentou a doutoranda em Agronomia e Fitotecnia da UFLA e integrante do Laboratório de Anatomia e Fisiologia do Cafeeiro, Ana Cristina de Souza.
A professora Rosemary explica como a atuação feminina com o café ganhou força na UFLA. “Por demanda dos próprios cafeicultores, somos a primeira universidade do país a possuir uma equipe própria de degustação de café. A princípio, só existia isso em cooperativas e exportadoras. Iniciamos esse trabalho com os técnicos administrativos da UFLA e isso nos mostrou que estávamos no caminho certo, prontas para enfrentar os desafios que viriam. Até hoje, eu digo que nós enfrentamos o receio, e para isso contamos com o apoio, colaboração e parceria de homens de bem. Muitas vezes estive sozinha no meio masculino e eu vi que não é o isolamento, e sim a interação, a alegria, a seriedade, mas sem perder a essência, é que traz essa proximidade e legitimidade de trabalho entre os gêneros. Trabalhar com seriedade sim e ser feliz fazendo o que faz – é isso que nos dar força para enfrentar qualquer desafio. Expandimos a nossa atuação e seguimos atendendo cooperativas e empresários, seguidos pelo atendimento à Indústria para finalmente atingir os consumidores, e é isso que nos deixa felizes: conseguimos atender toda a cadeia produtiva do café”.
A mestranda em Ciência dos Alimentos e secretária do QI Café, Maísa Mancini, trabalha com café desde 2012 e se apaixonou pela cultura ao prestar apoio técnico aos projetos do Polo de Tecnologia de Qualidade do Café. “Segui os meus estudos na linha de Saúde e Café, tendo em consideração a minha graduação em Nutrição. Ao longo desses anos de atuação, tenho visto um grande crescimento no número de mulheres envolvidas em projetos ligados à área. Hoje o QI Café possui cinco homens e dezenove mulheres em sua equipe. Acredito que estamos conseguindo ocupar cargos em áreas diversificadas, tradicionalmente ocupadas pelos homens”.
Reivindicando a igualdade de oportunidades, a barista e gestora de Inovação do Café da InovaCafé, Helga Andrade, fala sobre empoderamento no setor. Ela comenta que ao contrário do que se imagina, as mulheres já estão na cadeia produtiva do café desde a pesquisa, passando pela lavoura, até o consumidor final, atuando como baristas e degustadoras também. “Mas o que podemos perceber é que as mulheres têm pouca voz e menos oportunidades, assim, devemos aproveitar essas datas para dar voz e visibilidade para que sejam criadas oportunidades para outros elos da cadeia. Então, que as produtoras, as baristas, as industriais, as compradoras, que todas essas mulheres possam trabalhar em união, valorizando o trabalho feminino dentro da cadeia”, reforça.
Helga Andrade reforça, nesse sentido, a atuação da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), que vem contribuindo para que a as mulheres ganhem a desejada visibilidade, conectando e criando oportunidades. “Não queremos roubar o espaço masculino ou competir com eles, queremos trabalhar em parceria, porque cada um tem sua habilidade e sua competência para contribuir. Só queremos igualdade de oportunidades”, explica Helga.
Homenagem
No dia 8 de março, data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, a InovaCafé prestou uma homenagem em sua página no Facebook através de três postagens. As imagens apresentavam as mulheres como educadoras, pesquisadoras e administradoras na área de café. O texto ressaltava que as mulheres podem atuar onde quiserem, sem limitações de gênero.
As publicações atingiram ao todo mais de quatorze mil pessoas, gerando curtidas e comentários em apoio à causa. Com a iniciativa, a Assessoria de Comunicação da InovaCafé buscou valorizar os profissionais que atuam com o café, humanizando histórias e levando a mensagem de que as mulheres são capazes de vencer preconceitos e conquistar fatias do mercado de trabalho que antes eram exclusivamente masculinas.
Fonte: http://www.ufla.br/ascom/2016/03/10/atuacao-feminina-ganha-forca-em-projetos-de-cafe-na-ufla/