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A Sustentabilidade da Cafeicultura nas Mãos das Mulheres: Por uma cafeicultura mais humana

14/10/2015
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No último dia 02 de outubro, a Prof. Raquel Menezes, da UFV campus de Rio Paranaíba, participou da 2ª Conferência “Women in The World of Coffee – Fostering the Quiet Revolution”, promovida pela Fondazione Ernesto Illy, durante a Expo-Milão, na Itália. O evento é uma Exposição Internacional que ocorre a cada 5 anos, desde 1851, com a participação de diversos países, apresentando assuntos atuais e relevantes no cenário mundial. Em 2015, a Expo Milão teve como tema “Alimentar o Planeta – Energia para a Vida”. Além da Prof. Raquel, representando o Brasil no evento promovido pela Fondazione Illy, estiveram presentes Kattia Barrantes, da Costa Rica, Rose Karimi, do Quênia, Urvarshi Malhotra, da India, e Inez Cizia, do Burundi. Também foram apresentados resultados de projetos de entidades internacionais que vêm promovendo as questões de gênero na cafeicultura mundial, obtendo ótimos resultados no que se refere ao empoderamento destas mulheres e promovendo o desenvolvimento de suas comunidades.

Em 2014, a Fondazione Ernesto Illy realizou a 1ª Conferência das Mulheres no Mundo do Café, na cidade de Trieste, na Itália, sede da Illy. A convite da Sra. Josiane Cotrim, fundadora da Aliança Internacional das Mulheres do Café no Brasil, a Prof. Raquel Menezes vem integrando esse projeto no intuito de difundir a “Revolução Silenciosa” pela qual a cafeicultura vem passando, com uma maior participação de mulheres em todos os pontos da cadeia de valor do café.

Em sua palestra durante a Expo-Milão, que teve como tema “A Sustentabilidade da Cafeicultura nas mãos das mulheres”, a Prof. Raquel explicou que abordar esse tema requer tratarmos do assunto de uma maneira mais “humana”. Considerando que a sustentabilidade passa pela garantia da sobrevivência das gerações atuais sem comprometer as futuras, a prof. Raquel explicou que as mulheres já atuam de forma relevante nas diversas atividades ligadas à cafeicultura, mas muitas vezes não participam de decisões estratégicas. Além disso, muitas delas não reconhecem a relevância do trabalho que desempenham, mantendo-se ancoradas em alguma figura masculina, o que dificulta com que sejam vistas, ouvidas e respeitadas como parte interessada e fundamental para o futuro e a sustentabilidade na cafeicultura.

A Prof. Raquel abordou, por meio de exemplos e com base em pesquisas realizadas por ela e outros pesquisadores brasileiros, as três dimensões da sustentabilidade na cafeicultura e qual o papel que as mulheres exercem em cada uma delas. Considerando que mais de 80% das fazendas produtoras de café são familiares e que juntas produzem praticamente 40% do café brasileiro, não se pode desconsiderar ou subestimar a atuação de mulheres nesses empreendimentos da agricultura familiar.

Começando pelo eixo econômico, a professora mostrou exemplos de mulheres brasileiras que vem empreendendo na cafeicultura, buscando novos mercados e agregação de valor por meio de serviços nas atividades “dentro da porteira”. Também ressaltou o trabalho de muitas mulheres na organização e gestão das fazendas, atuando na área financeira e controle de custos. Ambas situações decorrem de uma maior escolaridade formal das mulheres, que no Brasil, já é superior à dos homens, ou seja, as mulheres estão estudando mais.

No eixo ambiental, a professora chamou a atenção para a preocupação das mulheres com as questões relevantes que comprometem a produtividade e a qualidade do café – como as mudanças climáticas e a água. Também citou exemplos de negócios criados por mulheres que buscam diminuir os resíduos gerados na produção de café, buscando novas destinações e transformando tais resíduos em novos produtos, como biocarvão e cosméticos. A professora mencionou ainda a contribuição significativa de inúmeras mulheres às pesquisas relacionadas à cafeicultura no Brasil, nas quais atuam como bolsistas em cursos de graduação, mestrado e doutorado. Embora em menor número, também se encontram muitas mulheres à frente de Projetos de Pesquisa em Rede, como no Consórcio Café da Embrapa por exemplo.

Por fim, no eixo social, a opinião da professora é de que essa é a área na qual as mulheres já vem dando a maior contribuição ao longo do tempo. Primeiro, porque elas influenciam a sucessão familiar, sendo decisivas na inclusão dos filhos nos negócios da família. Além disso, as mulheres demonstram uma maior disposição em compartilhar o que sabem, socializando suas experiências com as demais. E ainda, no que se refere à Gestão de Pessoas, pesquisas realizadas pela Prof. Raquel evidenciam que a área de Recursos Humanos em fazendas e demais organizações ligadas à cafeicultura tem sido ocupadas por gerentes e consultoras mulheres. Nesse aspecto, elas contribuem para a educação dos funcionários e cafeicultores acerca da sustentabilidade, pois não se pode falar em sustentabilidade sem educar as pessoas para tal.

Na conclusão de sua palestra, Raquel lembrou que a Aliança Internacional das Mulheres do Café no Brasil já tem feito um trabalho memorável de dar visibilidade às mulheres na cafeicultura do grão à xícara. Entretanto, na opinião da professora, no que se refere à sustentabilidade, o papel das mulheres vai do grão à xícara, e além. Trabalhar institucionalmente, comprometendo homens e mulheres que ocupam posições de liderança e influenciam políticas, gerar resultados e impactos diretos na vida das mulheres e suas famílias foram algumas das formas citadas pelas quais o empoderamento de mulheres já vem ocorrendo no Brasil.  Em diversas regiões produtoras, como Matas de Minas, Cerrado Mineiro e Norte Pioneiro do Paraná, mais de 1000 mulheres já foram diretamente envolvidas em algum tipo de atividade relacionada aos sub-capítulos da Aliança.

Por fim, a professora destacou que ainda falta muito para que se possa falar em equidade de gênero na cafeicultura brasileira. A necessidade de se levar em conta as diversidades regionais, a falta de dados oficiais sobre a situação e atuação das mulheres na cafeicultura são alguns dos fatores que dificultam o trabalho da IWCA-Brasil e demais entidades envolvidas nesse processo. Entretanto, um longo caminho já foi percorrido, divulgando uma revolução calma e silenciosa, mas sem dúvida, forte e transformadora que as mulheres vem fazendo pela cafeicultura nacional.

Texto: Raquel Santos Soares Menezes, Dsc - Professora Adjunta na Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba.